quinta-feira, dezembro 07, 2017

Henrique Jorge (Santa Cruz, 19/VIII/2017)

É um lugar-comum que a família ninguém escolhe, os amigos sim, mas é verdade e isso converteu-a num tópico recorrente.

O sangue não nos une, apesar de partilharmos família, contudo desde a minha adolescência que, num escasso leque de primos, poderia dizer primas, genealógicos, o considero o meu primo mais velho. Ainda por cima desses que tinha curiosidade por mim, um puto patego, e com quem, desde sempre partilhou o prazer de conversar.

O Henrique (para mim sempre foi, e sempre há-de ser, o Jorge, como o chamava o nosso tio António) pode ser adjectivado de várias maneiras. Sem pensar muito, diria brilhante. Mas isso é pouco e juntar-lhe-ia brilhante outra vez. O lado humano nem para aqui é chamado, porque é tão bom, e próximo do outro, que deixo isso lá para as velhotas de Vale do Pereiro.

Até hoje, nunca pensei nisto de forma a exteriorizá-lo. Aproveito o momento em palavras e converto-o numa entrada neste diário. O Henrique Jorge é uma das pessoas, e eu conheço, lidei e lido com muitas, que mais me estimulou e respeitou intelectualmente desde tenra idade. Assim são os mestres, apesar dele não se sentir e assumir assim, ficar-se-á pelo gosto de conversar com os putos. Ainda bem.

Dono do seu tempo, como bom matemático que é, leva um narrador dentro, desses bem dispostos e irónicos,  é artesão de aforismo, e relembra um sketch dos Monty Python ou ilustra uma jogada magnífica de futebol que se irá converter em pedagogia, se fizer falta, ou em deleite filosófico a oscilar entre os polos positivos e negativos da utilidade.

Quando nos vemos, no Natal e no Verão, é pena os ponteiros do relógio regerem-se pelo tempo do mecanismo e não pararem um bocadinho essa lógica acumuladora e cartesiana. Para se conversar precisa-se parar um pouco neste tempo moderno e entrar nessa lógica improdutiva para o lucro económico, pois as boas conversas sucedem-se porque sim. Já está. Dialogar por prazer é assim, uma mistura de sucessões de ideias ao relantim. 

Conversar com ele é apreciar o acto em si. Admirar o outro sem genuflexões intelectuais e sentir que há muito que aprender com uma boa conversa, com a atenção ao outro ser humano. Pode ser que um guru qualquer do youtube responda aos seus seguidores, mas nunca será o mesmo que dois dedos de bom paleio, muito menos com o Henrique Jorge.

  

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